terça-feira, 1 de maio de 2012

Você sabe o que é Medicina da Conservação?



A conservação da biodiversidade e de ecossistemas saudáveis é extremamente necessária para a saúde dos indivíduos, das populações humanas e das demais espécies encontradas na natureza (DASZAK et al, 2004). Profissionais no campo da Biologia da Conservação estão cada vez mais reconhecendo as ameaças das doenças infecciosas e não infecciosas na conservação da vida silvestre (TAYLOR et al, 2001). E a incidência de doenças infecciosas emergentes e re-emergentes vem aumentando a cada ano, tanto nos países em desenvolvimento como nos desenvolvidos, como nas populações humanas e de animais domésticos que vivem nas áreas de transição com consideráveis remanescentes florestais (DASZAK et al, 2000; Verona, 2006). O papel das doenças, como um importante fator para a sobrevivência das espécies, esteve sempre atrelado às pressões humanas sobre os recursos naturais, que causam mudanças em escalas local, regional e global, com impactos diretos e indiretos na saúde dos animais (Verona et al, 2006). Essas mudanças incluem, por exemplo, a explosão demográfica da população mundial, a fragmentação e a degradação dos hábitats, a caça predatória, o isolamento de espécies e populações e o aumento da proximidade entre as comunidades humanas (e seus animais domésticos) das populações de animais silvestres (PATZ et al, 2000). Como conseqüência desses múltiplos estresses ambientais, ocorrem certas doenças emergentes, desestabilização de cadeias tróficas e efeitos danosos tanto na saúde de populações silvestres, como na ecologia dos hábitats fragmentados (PLUMB et al, 2007). A fragmentação florestal, por exemplo, pode mudar a composição das espécies e alterar o equilíbrio hospedeiro-parasita, favorecendo a ocorrência de zoonoses que antes estavam presentes apenas no ambiente silvestre (Corrêa; Passos, 2001). O conceito de saúde como forma de avaliação de qualidade de ecossistemas tem sido aplicado em programas de manejo ambiental de uma forma cada vez mais efetiva. A determinação e utilização de índices de saúde de populações de espécies selvagens em vida livre são necessárias e essenciais, como sinalizadora das condições gerais do estado do ecossistema, porque agem como um “prognóstico” da capacidade e equilíbrio de um sistema natural e auxiliam no manejo de populações a tempo de prevenir alterações drásticas e indesejáveis ao sistema como um todo (Verona et al, 2006). Algumas espécies animais podem funcionar como verdadeiros "termômetros", ajudando a monitorar a saúde dos ecossistemas. São "espécies sentinelas" - aquelas que, por refletir as perturbações do meio ambiente, podem servir de indicadores da conservação do meio (Mangini et al, 2006). Elas auxiliam levantamentos rápidos sobre os impactos ambientais e monitoramentos de longo prazo que tem o objetivo de acompanhar e avaliar a conservação ou degradação dos ecossistemas. A medicina da conservação surgiu para auxiliar a esclarecer aspectos ecológicos e sanitários de populações de animais silvestres, que certamente contribuirão com o entendimento da dinâmica das paisagens fragmentadas, da conservação dos ecossistemas e dos recursos naturais, buscando medidas e ações efetivas transdisciplinares.
Texto: Profª Lilian Silva Catenacci
Corrêa, S.H.R.; Passos, E.C., 2001. Wild animals and public health. In: Fowler, M.E.; Cubas, Z.S. Biology, medicine,and surgery of South American wild animals. Ames: Iowa University Press, p. 493-499.
VERONA, C.E.S . 2006. A importância de estudos de saúde de mamíferos selvagens para a saúde pública e manejo de unidades de conservação. VII Congresso Internacional sobre manejo silvestre na amazônia e américa latina, Ilhéus, Bahia.
VERONA, C.E.S.; PISSINATTI,A. Primates- Primatas do Novo Mundo (Sagüi, Macaco-prego, Macaco-aranha, Bugio).Tratado de Animais Selvagens, Cubas, Z.C.; Silva, J.C.R.; Catão-Dias, J.L.(eds.).(24)p.359-377.
DASZAK, P., A.A; CUNNINGHAM, A.D.; HYATT. 2000. Emerging infectious diseases of wildlife: threats to biodiversity and human health. Science, 287: 443–449.
TAYLOR, L.H.; S.M. LATHAM; M.E.J. WOOLHOUSE. 2001. Risk factors for human disease emergence. Phil. Trans. Roy. Soc. Lond., 356: 983–989.
DASZAK, P.; TABOR,G.M.; KILPATRICK, A.M.; EPSTEIN, J.; PLOWRIGHT. 2004. Conservation Medicine and a new agenda for emerging diseases. Ann. N.Y. Acad. Sci., 1026: 1–11.
PATZ, J.A.; GRACZYK, T.K.; GELLER,N.; VITTOR, A.Y. 2000. Effects of environmental change on emrging parasitic diseases. International Journal for Parasitology, 30:1395-1405.
PLUMB, G.; BABIUK, L.; MAZET,J.; OLSEN,S.; PASTORET,P.P.; RUPPRECHT,C.; SLATE,D. 2007. Vaccination in conservation medicine. Rev. sci. tech. Off. int. Epiz., 26: 229-241

Nenhum comentário:

Postar um comentário