A conservação da biodiversidade e de
ecossistemas saudáveis é extremamente necessária para a saúde dos indivíduos,
das populações humanas e das demais espécies encontradas na natureza (DASZAK et
al, 2004). Profissionais no campo da Biologia da Conservação estão cada vez mais
reconhecendo as ameaças das doenças infecciosas e não infecciosas na conservação
da vida silvestre (TAYLOR et al, 2001). E a incidência de doenças infecciosas
emergentes e re-emergentes vem aumentando a cada ano, tanto nos países em
desenvolvimento como nos desenvolvidos, como nas populações humanas e de animais
domésticos que vivem nas áreas de transição com consideráveis remanescentes
florestais (DASZAK et al, 2000;
Verona, 2006). O papel das doenças, como um importante fator para
a sobrevivência das espécies, esteve sempre atrelado às pressões humanas sobre
os recursos naturais, que causam mudanças em escalas local, regional e global,
com impactos diretos e indiretos na saúde dos animais (Verona et al, 2006). Essas mudanças
incluem, por exemplo, a explosão demográfica da população mundial, a
fragmentação e a degradação dos hábitats, a caça predatória, o isolamento de
espécies e populações e o aumento da proximidade entre as comunidades humanas (e
seus animais domésticos) das populações de animais silvestres (PATZ et al,
2000). Como conseqüência desses múltiplos estresses ambientais, ocorrem certas
doenças emergentes, desestabilização de cadeias tróficas e efeitos danosos tanto
na saúde de populações silvestres, como na ecologia dos hábitats fragmentados
(PLUMB
et al, 2007). A
fragmentação florestal, por exemplo, pode mudar a composição das espécies e
alterar o equilíbrio hospedeiro-parasita, favorecendo a ocorrência de zoonoses
que antes estavam presentes apenas no ambiente silvestre (Corrêa;
Passos,
2001). O
conceito de saúde como forma de avaliação de qualidade de ecossistemas tem sido
aplicado em programas de manejo ambiental de uma forma cada vez mais efetiva. A
determinação e utilização de índices de saúde de populações de espécies
selvagens em vida livre são necessárias e essenciais, como sinalizadora das
condições gerais do estado do ecossistema, porque agem como um “prognóstico” da
capacidade e equilíbrio de um sistema natural e auxiliam no manejo de populações
a tempo de prevenir alterações drásticas e indesejáveis ao sistema como um todo
(Verona et al, 2006). Algumas
espécies animais podem funcionar como verdadeiros "termômetros", ajudando a
monitorar a saúde dos ecossistemas. São "espécies sentinelas" - aquelas que, por
refletir as perturbações do meio ambiente, podem servir de indicadores da
conservação do meio (Mangini et
al, 2006). Elas auxiliam levantamentos rápidos sobre os impactos ambientais e
monitoramentos de longo prazo que tem o objetivo de acompanhar e avaliar a
conservação ou degradação dos ecossistemas. A medicina da conservação surgiu
para auxiliar a esclarecer aspectos ecológicos e sanitários de populações de
animais silvestres, que certamente contribuirão com o entendimento da dinâmica
das paisagens fragmentadas, da conservação dos ecossistemas e dos recursos
naturais, buscando medidas e ações efetivas
transdisciplinares.
Texto: Profª
Lilian Silva Catenacci
Corrêa, S.H.R.; Passos, E.C., 2001.
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